O artista plástico Arthur Bispo do Rosário transpôs seus delírios, diagnosticados como esquizofrenia, com a criatividade. Transformou “alienações” em peças comparadas por críticos às obras de Andy Warhol e Marcel Duchamp. Os objetos poderão ser apreciados em um novo museu, que deve ser inaugurado até o final de 2011, na capital fluminense.

Nascido no início do século 20, em Sergipe, Bispo do Rosário veio para o Rio onde foi internado aos 29 anos.

Há poucas referências sobre sua origem. Sabe-se que era de uma família de negros católicos. A socióloga Marta Dantas, que acaba de lançar um livro sobre o artista, conta que ele se dizia filho de Deus, adotado pela Virgem Maria e “aparecido” no mundo.

De acordo com a pesquisadora, que fez um levantamento sobre a vida e a obra do artista, a inspiração de Bispo para seus trabalhos apareceu depois que “sete anjos anunciaram que ele havia sido o eleito pelo Todo Poderoso”, e que sua missão na terra “consistia em julgar os vivos e mortos e recriar o mundo para o Dia do Juízo Final”.

Conduzido por “vozes sagradas”, fez cerca de 800 peças desfiando uniformes de manicômios, juntando lixo e sucata. O destaque é o Manto da Apresentação – traje que deveria ser usado durante a “passagem”. Durante 50 anos de internação, a maior parte na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio (onde foi submetido a eletrochoques), compôs também assemblages (técnica que consiste na justaposição de elementos), estandartes e sua cama-nave.

“Não é possível criar um novo universo senão partindo de um ponto fixo. Por isso, fez dos lugares onde morou [quartos, sótão, celas] templos – longe dos olhares curiosos e profanos, onde ele escondia os mistérios de um outro mundo em formação”, afirma Marta Dantas em Arthur Bispo do Rosário – A Poética do Delírio.

A obra do artista foi tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural (Inepac) e está parcialmente exposta em um antigo museu na Juliano Moreira. Por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a prefeitura constrói um espaço mais amplo para abrigar todo o acervo do artista, morto na instituição, em 1989.