O RESULTADO DO leilão do pré-sal era previsível para a cúpula do governo faz umas duas semanas ou um mês (depende da fonte), quando se formou o consórcio vencedor. O desfecho era quase certo fazia uma semana, quando o consórcio foi formalizado: Petrobras, Shell, Total e as duas chinesas.

Seria improvável que as petroleiras restantes, menores, tivessem capacidade financeira e operacional para formar uma sociedade. Portanto, se por mais não fosse, a ideia de que o leilão seria um “teste” para o modelo não fazia sentido, sempre segundo o governo. O resultado já era “previsto e bom”.

Diz a cúpula do governo que não há discussões sobre mudar o novo modelo de exploração do petróleo, o do pré-sal, formulado a partir de 2007, com a descoberta dos novos campos, e aprovado em lei de 2010.

Não haveria discussão porque o modelo ainda nem foi testado, porque uma nova mudança causaria grande conturbação, política inclusive, e, enfim, porque esse é um modelo ao gosto de Dilma Rousseff.

De resto, o governo diz que ficou bem satisfeito com a participação de metade das dez maiores petroleiras do mundo na exploração do primeiro campo do pré-sal.

Segundo críticos, o novo modelo seria um problema em especial porque: 1) A Petrobras tem de ser a operadora (“gerentona”) de todos os campos do pré-sal, com participação mínima de 30% em todos eles. Não teria, assim, dinheiro suficiente para entrar em todos eles; 2) A nova estatal do setor, Pré-Sal Petróleo SA (PPSA. “Pepesa”?), que vai coordenar e fiscalizar a exploração, tem poder demais, o que assustaria petroleiras privadas; 3) A indústria nacional não tem condição de oferecer, a bom preço e no prazo, a cota de equipamentos e insumos que as petroleiras do pré-sal têm de, obrigatoriamente, comprar no Brasil; 4) A quantidade de petróleo que as empresas têm de entregar ao governo (mínimo de 41,65% neste leilão) é muito grande.

A associação das petroleiras é a maior defensora de mudanças.

O governo diz que nenhum desses “pontos críticos” afastou gigantes privadas como Shell e Total. Diz que a temida e excessiva participação de estatais chinesas, assim como “acordos por baixo do pano” com essas empresas, acabou sendo “mito”.

Para a cúpula do governo, a Petrobras seria capaz de investir nos próximos leilões do pré-sal. Tanto que o governo pensa até em antecipar, o quanto possível, o próximo leilão, por ora planejado para 2015.

O pré-sal seria um investimento tão seguro que a Petrobras teria crédito e, pois, capital suficiente para investir. Enfatizam que ela ficou com 40% do campo de Libra, leiloado ontem, em vez dos 30% mínimos.

Quanto ao mínimo que as empresas têm de “pagar” ao governo em petróleo, a quantidade será definida para cada leilão. Mais nada pode mudar?

“A gente nunca pode dizer nunca. Esse mercado tem choques incríveis de preços, descobertas enormes como a do pré-sal e a do xisto nos EUA. O que a gente está dizendo é que não tem discussão nenhuma sobre mudança. E, se tivesse, seria muito improvável fazer alguma coisa em ano de eleição. O modelo é esse, talvez com um outro ajuste menor”, diz gente da cúpula do governo que, até ontem, ao menos, parecia muito tranquila, embora nada efusiva.