Dra. Lia J. Marçal, Farmacêutica-Bioquímica responsável técnica pelo Laboratório Trianon e Doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, explica quais as diferenças nos testes para o COVID-19, com o intuito de compilar alguns fatos relacionados aos exames disponíveis e suas interpretações dos possíveis resultados.

Primeiramente, é de extrema importância ressaltar que o padrão ouro (melhor método disponível para o diagnóstico) é o RT-PCR, realizado por coleta de escarro ou swab de naso e orofaringe, e deve ser feito entre o 2º e 10º dia de sintomas. Atualmente, quaisquer outras formas de diagnóstico, são apenas probabilidades.

Os testes rápidos, que tanto ouvimos falar, detectam anticorpos IgM e IgG para o vírus, porém, são testes que foram apresentados e colocados a disposição no mercado internacional sem a validação necessária e, com isto, eles apresentam chance de erros consideráveis. Diversos países compraram estes testes e tentaram validá-los porém, como a chance de erro era grande, os testes foram devolvidos ao país de origem.

No Brasil, a ANVISA aprovou inúmeros kits de teste rápido sem as devidas validações (hoje são aproximadamente 41 tipos de kits disponíveis), entretanto o Ministério da Saúde validou poucas destas marcas. Além do mais, o ministério da Saúde apontou limitações importantes nos testes rápidos que começaram a ser distribuídos.

Análises apontaram que um resultado não reagente (negativo) para o Covid-19 tem probabilidade de que o resultado reflita a realidade de apenas 30%.

Com estas inúmeras ressalvas, um resultado “não reagente” deve ser interpretado com cautela, especialmente se a coleta for realizada antes do sétimo dia de sintomas (fase aguda).

Exemplificando: segundo alguns estudos, a probabilidade dos anticorpos IgM se apresentarem como positivos entre o 1-7º dia de sintomas é de 30%, o IgG é de 20%.

Entre 8 e 14º dia, a probabilidade dos anticorpos IgM serem positivos é de 70% e IgG é 50%. Já após o 15º dia, a probabilidade do IgM se apresentar positivo é de 90% e do IgG de 80%.

Portanto, considerar que um paciente sintomático ou assintomático (que teve contato com algum paciente confirmado com a doença) como negativo para COVID-19 antes de 14 dias são apenas suposições, com grandes chances de serem errôneas. Além disto, devemos ressaltar que estes estudos foram feitos com metodologias de dosagens de anticorpos mais eficazes que os “testes rápidos” disponíveis.

Entretanto, diante de um resultado “reagente” (positivo), podemos ter maior confiança em relação ao diagnóstico, apesar de não poder ser utilizado como evidência inequívoca de infecção.

Devemos sempre ter em mente a possibilidade de reações cruzadas com outras coronaroviroses, além de outras causas de falso-positivos.

Finalizando, os testes rápidos disponíveis têm um bom desempenho para sinalizar os casos positivos, entretanto, com um resultado negativo em mãos, não significa “não estar” ou que “não teve contato” com a doença.

Peço a toda a população que continue seguindo as recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde.

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