Agricultura movida a ciência

transformação foi fruto de robusto investimento em ciência, tecnologia e inovação

Agricultura movida a ciência

 

Celso L. Moretti*-Pesquisador Embrapa

A agricultura brasileira é movida a ciência. Poucos países podem afirmar o mesmo. Em pouco menos de cinco décadas o Brasil saiu da situação de importador para se tornar num dos maiores exportadores de alimentos, fibras e bioenergia do mundo. É uma história de sucesso, uma saga que todos os brasileiros, no campo e na cidade, devem conhecer.

Com ciência, nas últimas cinco décadas, incrementamos a produção de grãos em cinco vezes com aumento correspondente de apenas duas vezes na área plantada. Elevamos a produção de leite de 5 para 35 bilhões de litros. Aumentamos a produção de trigo e milho em 250% e a de arroz em mais de 300%. A cafeicultura quadruplicou a produtividade nos últimos 25 anos. E a produção de carne de frango deu um salto magnífico: cresceu praticamente 65 vezes, saindo de 200 mil toneladas na década de 70 para 13 milhões de toneladas em 2018.

A transformação não ocorreu ao caso. Foi fruto de um robusto investimento em ciência, tecnologia e inovação, da parceria entre o setor público e o privado. Com ciência transformamos um passivo, os cerrados, com vegetação retorcida e solos ácidos e pobres, num dos maiores ativos do país. Celeiro de grãos, frutas, hortaliças e proteína animal, em 2019 os cerrados entregaram mais da metade da produção de grãos e cana de açúcar do país.

Com ciência, tropicalizamos grãos, como a soja e o trigo, forrageiras africanas e o gado europeu e indiano. A produção de trigo nos trópicos é inédita e já ocupa 130 mil hectares dos cerrados brasileiros. Pode chegar a dois milhões de hectares e tornar o Brasil autossuficiente na produção do grão.

Com ciência desenvolvemos novas raças bovinas, como a girolando, tão produtivas quanto as europeias e mais adaptadas aos trópicos. Foi também com ciência que o Brasil criou uma plataforma de produção agropecuária sustentável, com tecnologias como o plantio direto.

A fixação biológica de nitrogênio economiza para o país, anualmente, algo em torno de 13 bilhões de dólares que deixam de ser gastos com adubos nitrogenados, sobretudo importados. É um verdadeiro ovo de Colombo. De quebra, contribui para que aproximadamente 60 milhões de toneladas equivalentes de CO2 deixem de ser emitidas na atmosfera