Causa perplexidade no mundo as cenas de retiradas de refugiados do oriente médio de suas terras para buscarem refúgio em outros países que não estejam assolados pelas guerras ocasionadas pela intolerância política, religiosa ou racial. Síria, Iraque, Eritreia, Turquia, e vários outros países da região são as pátrias em que se desenvolvem batalhas violentas e não poupam a população civil de todos os horrores das guerras. Cidades inteiras são destruídas e as pessoas fogem dali com destino incerto, apenas desejando salvar suas vidas.
Buscam, principalmente, os países da Europa que já não suportam a enorme invasão das hordas de refugiados, carregando apenas os filhos e a roupa do corpo. Não podem levar mais nada porque não sabem quantos quilômetros terão que caminhar. Estradas longas, coalhadas de moribundos e corpos em putrefação vão ficando para trás. A busca pela própria vida e dos filhos se impõe como prioridade.
Porém, a solidariedade de muitas nações que não estão sofrendo com a guerra, encontra-se no limite. Muitas já não aceitam mais refugiados. Acreditam que esses batalhões de famintos vão desestabilizar sua economia e sua vidinha. Outras já ergueram cercas de arame farpado e colocam guardas armados para impedir que essa onda de miseráveis alcance seus domínios.
Para os refugiados, a porta de entrada mais sonhada para adentrarem a Europa é a Itália e a Grécia. Para isso lotam barcaças, onde deixam seus últimos tostões e são obrigados a se acomodarem de maneira que menos espaços ocupem. Ficam agachados por dias sem se movimentarem. Essas barcaças possuem dois pavimentos. Em cima, ficam os que pagaram mais e ali, pelo menos têm ar. Embaixo ficam os que pagaram menos e um número enorme deles morre sufocado.
Os donos dos barcos não têm a menor comiseração desses infelizes e os exploram sem remorso algum. Ainda é comum esses barcos afundarem devido ao excesso de peso e com isso morrem milhares de pessoas, principalmente crianças.
Devido à proibição de entrada desses refugiados está acontecendo algo mais terrível ainda, praticamente inimaginável para uma população que não conhece a guerra: Uma quantidade enorme de crianças, que perderam os pais nessas loucas caminhadas, encontram-se sozinhas, desamparadas e saem a esmo, apenas com um nome da cabeça: o do país para onde seus pais diziam que iriam levá-las.
Seguem o cortejo de desiludidos e, quando chegam às barreiras ficam por ali, sem comida, sem água, sem proteção alguma. Juntam-se a elas outras crianças cujos pais foram proibidos de atravessar as barreiras e, muitas vezes, algum soldado deixa que elas passem para o território francês ou inglês que era o objetivo dos pais.
Seguem, então, os batalhões de crianças de 5, 6, 7 anos completamente desamparadas, famintas, desorientadas, traumatizadas para enfrentar uma nova terra completamente desconhecida para elas, sem conhecer nem mesmo a língua local para a mais tosca comunicação. As mais velhas, de 11 anos para cima, são o alvo perfeito dos traficantes que as levam para o trabalho forçado, tráfico de drogas e prostituição.
Fica a grande pergunta: Como os países de origem desses desgraçados chegaram a esse nível de abandono de seus nacionais? E a resposta é simples: devido à intolerância. Essa é a palavra chave: Intolerância.
Chega a dar arrepios quando, em passeatas pelas ruas do Brasil, se vê pessoas destilando ódio àqueles que não comungam de suas opções políticas. Manifestações, protestos são sempre bem vindos em uma democracia, porém, sempre dentro da ordem e do respeito aos adversários. Quem não aprova determinado candidato, simplesmente não vota nele nas próximas eleições. Não é necessário ser intolerante. Há gente que acredita que coisas ruins só acontecem com os outros, mas tudo começa assim, com a insidiosa intolerância.

Até quarta-feira
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-Dracena-