A voz do narrador ecoava praticamente solitária pelo Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo, nos últimos minutos do jogo do Brasil contra a Holanda. Durante todo o tempo, no entanto, o Anhangabaú esteve lotado de torcedores que assistiam à partida por telões instalados pela prefeitura. O clima tenso que marcou os minutos finais contrastava com a animação do início da partida.
O silêncio só era quebrado quando a seleção brasileira se aproximava do gol adversário. Mas como nenhuma jogada foi capaz de reverter o placar de 2 a 1 – que eliminou o Brasil nas oitavas de final da Copa do Mundo da África do Sul – a frustração da torcida era tamanha que em nada lembrava o clima no Anhangabaú, quando os torcedores começaram a chegar por lá por volta das 6h.
Todos vibravam com o que parecia ser uma vitória anunciada pelo gol brasileiro marcado pelo atacante Robinho, logo no início da partida. A confiança, expressada pelas vuvuzelas e gritos de incentivo, era ainda maior do que a do último jogo, contra o Chile. “Tá mais animado. O outro que eu vim aqui tinha pouca gente, hoje tá mais animado”, confirmou o turista cearense, Messias Carvalho.
O ânimo, no entanto, reduziu drasticamente com o gol contra do volante Felipe Melo aos oito minutos do segundo tempo. E a feição dos paulistanos endureceu um pouco mais quando o holandês Sneijder virou o jogo logo em seguida, aos 23 minutos. Nesse momento, as vuvuzelas praticamente cessaram. Apenas uns poucos insistiam em tocar as cornetas que se tornaram um dos símbolos dessa Copa.
Nos três minutos de acréscimo, os mais exaltados já soltavam palavrões. E o fim do jogo confirmou a frustração da torcida, que vai esperar mais quatro anos pela chance do hexacampeonato. “Os caras não têm noção do tanto que a gente torce, do tanto que a gente espera, para chegar em uma hora dessa e os caras não jogarem nada. É frustrante isso”, desabafou a assistente contábil, Cristiane Santana.
Outros diziam que, desde o início, não acreditavam no sucesso da seleção. “Isso tudo é culpa do Dunga, que não convocou nem o Neymar, nem o Ganso. Se eles estivessem lá, tinham resolvido isso. Pensei que [a seleção brasileira] nem ia chegar a jogar com a Holanda”, comentou o técnico em farmácia, Maurício Ribeiro.